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Astrologia & Ciência: Casamento Impossível ou Grande Parentesco?

Autor(a):

Edil Carvalho

em

4 de outubro de 2004

A antiga divisão do universo num desenvolvimento objetivo no espaço e no tempo, por um lado, e numa alma que reflete esse desenvolvimento, por outro, já não serve para ponto de partida caso se queira compreender as ciências modernas da natureza. É, antes de tudo, a rede de interligações entre o homem e a natureza o objetivo central da ciência.Werner Heisenberg (1901-1976)

Introdução


Ao longo dos séculos, o ser humano sempre tentou compreender melhor a si mesmo e o mundo que o cerca, e cada época da história ficou caracterizada por elaborar este entendimento de um modo muito particular. Cada época, a seu modo, teve o que chamamos de cosmovisão: um modo muito próprio de compreender não só o Homem e a Natureza mas também a Deus.

Entender como o ser humano foi elaborando ao longo do tempo estas 3 noções se torna pois fundamental não só para compreender a sua vasta produção cultural (que engloba desde a Arte, a Ciência, a Religião e a Filosofia), como também para diagnosticar um fio condutor que possa desembolar o complexo novelo no qual se transformou a experiência do conhecimento humano. Desse modo, entender as sucessivas cosmovisões históricas pode se tornar uma chave para compreender a imensa confusão tanto intelectual quanto espiritual no qual o homem mergulhou.

Para isto, seria necessário entender a cosmologia de cada época, ou seja, o modo como cada época acreditava que o Cosmos estava estruturado e organizado e como a dimensão natural, humana e espiritual se relacionavam entre si. Estudar cosmologia é, pois, uma maneira de compreender como cada época interpretava a vida e o mundo ao seu redor.

Mas, para quem pretende entender as possíveis relações entre Astrologia e Ciência, torna-se necessário estudar o período que une o final da Idade Média com o início do Renascimento – período em que não só o modo de compreender o mundo se alterou substancialmente como também foi o período onde se plantaram as primeiras sementes daquilo que, séculos depois, viria a configurar a Ciência Moderna. Ademais, porque foi neste período que a Astrologia se encontrava no cerne dos debates mais acalorados que foram empreendidos por autores consagrados – intelectuais do porte de um Nicolau de Cusa e de um Pico della Mirandolla, que se tornaram o retrato de uma época.

Estudar suas obras pode ser uma maneira de não só compreender a grande mudança de Visão de Mundo que se processou por este período como também o lugar que a Astrologia ocupa – ou ocupou – dentro da História do Pensamento Humano e da Cultura. E só por isso, pelo fato da Astrologia ocupar ou ter ocupado um lugar dentro do conjunto dos saberes humanos, ela deveria ser estudada com profundidade e respeito

Este texto não é mais do que uma mera tentativa de estimular tal empreendimento.

A cosmologia antiga e medieval


Desde a antiguidade até a Idade Média, compreendia-se que a vida e o mundo estavam estruturados e organizados em três níveis ou dimensões, a saber:

1. a dimensão física ou natural

2. a dimensão humana

3. a dimensão sobrenatural ou metafísica

Esta cosmologia tinha sobretudo uma característica: estabelecia um hierarquia entre a dimensão física e metafísica, isto é, entre o plano inferior e superior, entre o mundo sensível e inteligível, entre a Natureza e Deus, tendo, no centro, o Homem. Esta hierarquia não só determinava tudo o que podia ocorrer em cada uma destas 3 dimensões mas, também, a maneira específica como cada uma poderia ser conhecida: das alturas do plano superior até a base do plano inferior, estabelecia-se uma via de mediação por onde o infinito tocava e conhecia o finito e por onde o finito tocava e conhecia o infinito também. Era por essa via de mediação que Deus tocava e conhecia o Homem, assim como o Homem tocava e conhecia Deus. Mas, para que isso ocorresse, havia toda uma trajetória, todo um percurso que ora era realizado num salto único e súbito e ora era realizado passo a passo, numa sequência sujeita a leis bastante rigorosas.

Eis um esquema possível para esta cosmologia, que reflete ao mesmo tempo um modo de ver o mundo:


Esta cosmologia, composta de 3 partes devidamente hierarquizadas, sofre somente algumas variações até o Renascimento – quando lhe é desferida o golpe fatal, desmantelando-a por completo, como veremos.

É tendo esta cosmologia como pano de fundo cultural que a Astrologia se sustentou e aflorou ao longo dos tempos, ora em sua versão doutrinal e mística, revelando o aspecto propriamente primitivo e original de adoração e revelação dos Céus, e ora em sua versão racional, revelando o aspecto propriamente pedagógico e civilizatório deste saber que acabou transformando-o ao longo de toda a Idade Média num princípio de inteligibilidade do Mundo, isto é, num modo de compreender tanto a existência humana quanto o mundo em torno.

A cosmologia renascentista emergente


É durante o Renascimento – manifestação cultural que se iniciou na Itália em torno de 1400 e que se prolongou na Europa até ao final de 1600 – que se rompe o quadro com que tradicionalmente se concebia o Homem e as coisas que estavam ao seu redor. A partir da Renascença, a estrutura cósmica sofre uma mudança drástica, inaugurando uma nova visão de mundo e realizando, por isso mesmo, aquilo que se chama de mudança de paradigma: uma mudança no ato de ver, de pensar e compreender o mundo.Até a Renascença, a estrutura cósmica se manteve relativamente estável, mostrando pequenas variações na maneira como o plano natural, humano e sobrenatural se relacionavam. No entanto, a partir deste período, fica cada vez mais impossível admitir:

PRIMEIRO: a superioridade absoluta de um Deus único regendo todos os fatos.

SEGUNDO: a determinação imperiosa dos diversos astros celestes sobre a vida humana.

TERCEIRO: que a explicação para todos os fenômenos naturais e para todos os fatos humanos não estivesse escrita e já determinada pelas condições próprias e inerentes à Natureza e ao Homem, dispensando a intermediação de Deus e a medida cósmica – a Astrologia – como critério e expediente para o ato do saber e do conhecimento.

Ao longo deste período, vamos assistindo uma separação cada vez mais nítida e definitiva entre três dimensões que se encontravam até então entrelaçadas, inaugurando uma nova concepção de Natureza e de Homem que não só se sobressaíam dentro da antiga cosmologia mas que, também, ia engolfando e eliminando o lugar e o valor que Deus e os astros ocupavam dentro dela. É este episódio que marca uma ruptura definitiva com o Divino, com o plano metafísico e espiritual, “um obscurecimento de todo o supra-sensível” com frisa o grande historiador da civilização Jacob Burckhardt em seu monumental livro chamado O Renascimento em Itália (1) , escrito em 1860.

E é esta ruptura que vai determinando também a possibilidade da Natureza ser investigada independentemente de uma especulação mais filosófica, sem uma raiz metafísica que lhe investia de significado, estabelecendo um divórcio entre método experimental e mera especulação, ou seja: entre a futura ciência moderna e a filosofia. É esta situação que acabou colocando a prática à parte de toda e qualquer teoria – aquela teoria que originalmente significava contemplação.

A partir de então, o ser humano vai mergulhando cada vez mais a sua inteligência e o seu espírito na matéria bruta e informe, na Natureza, em busca de uma razão que antes era compartilhada pelo próprio Homem e por Deus. A partir de então, diante da sua inteligência, só existe unica e exclusivamente uma Natureza a ser investigada. Neste sentido, vemos que a inclinação à multiplicidade e heterogeneidade do mundo sensível e o esforço para compreendê-lo leva a criação do novo conceito de Natureza – e, também, ao conceito de Homem, que executa de maneira heroica este empreendimento visto que se descobre com liberdade e vontade suficientes para conhecer o mundo por si próprio.

Por isso, para o filósofo Ernst Cassirer, que escreveu em 1926 a monumental obra Indivíduo e Cosmos na Filosofia do Renascimento (2) , única no gênero, não foram motivos provenientes das ciências naturais e nem os novos métodos da observação e do cálculo matemático os responsáveis pela derrocada da cosmovisão astrológica e, sim, a descoberta do valor próprio do Homem que se libertava finalmente do jugo do céu. Desse modo, à força do destino opõe-se a vontade humana consciente de si e confiante em si mesma. Aquilo que podemos chamar de o destino do Homem, no sentido mais profundo e autêntico da palavra, não é algo que o atinge de cima para baixo, como a emanação descida à Terra a partir de uma estrela, mas algo que vem à tona a partir das profundezas mais remotas de seu próprio interior.

Por isso, se durante a Renascença vamos assistindo como paulatinamente a causalidade astrológica vai sendo substituída pela causalidade físico-matemática, fundando o terreno no qual será edificado o prédio das ciências modernas, e se é neste período que o Homem magnífico e poderoso passa a ocupar um trono que antes pertencera a Deus, é também por esta época que assistimos uma mudança capital de conceitos e ideias, uma mudança no modo de entender o mundo – revelando que toda a produção cultural humana está diretamente ligada às condições e ao modo de conhecer valorizado por cada época.

Isto, sem sombra de dúvida, mostra as estreitas relações que existem entre a Teoria do Conhecimento e os diversos saberes humanos, revelando que ela pode se tornar um excelente instrumento não só para compreender um período histórico mas também o conteúdo de cada saber. Por isso, recontar a história da cultura humana pela perspectiva da Teoria do Conhecimento pode se transformar num valioso instrumento de entendimento e de compreensão, revelando o quanto que a cosmovisão astrológica contém e resguarda um valor e uma importância que não foi aquilatado – ainda – por saber algum.

E, só por isso, pela possibilidade de entender a cosmovisão astrológica e suas sucessivas fragmentações, é que vale a pena ler as obras que foram escritas ao longo da Renascença.

A Astrologia sob o enfoque de autores renascentistas


1)PIETRO POMPONAZZI: os astros como forma universal de regularidade (1462-1524)


Ainda que este autor se posicione de maneira crítica e cética frente aos presságios, aos milagres, à adivinhação e à magia, em nenhum momento ele contesta a veracidade e a credibilidade do gênero em si, com uma ressalva: para ele, a “experiência” é a garantia dessa veracidade, e o investigador deve simplesmente aceitar a experiência sem alterar-lhe o conteúdo. Segue-se daí que, por mais estranho e inverossímil que seja um efeito ou uma manifestação da natureza, a teoria não deve contestar esta realidade mas deve, isto sim, buscar o “porquê” deste fenômeno, a sua causa.

E isto só seria possível quando se conseguisse ir além do caso isolado observado, isto é, quando se conseguisse ver nele uma forma universal de regularidade. E, para o autor, essa forma universal de regularidade estava presente no movimento dos corpos celestes, na causalidade astrológica. Para ele, portanto, a causalidade astrológica não é nada mais e nada menos do que o fundamento sobre o qual deve se apoiar toda e qualquer explicação sobre os fenômenos naturais. Nenhum fenômeno poderia ser considerado plenamente entendido se não fosse explicado pela influência que os astros exercem sobre o mundo inferior. Por toda obra Pomponazzi procura demonstrar que não há necessidade de se recorrer a nenhuma outra força para explicar os supostos atos de encantamento, os fenômenos da magia, a interpretação dos sonhos e a quiromancia pois, para ele, não existem intervenções superiores ou inferiores capazes de romper a lei que rege os eventos terrestres visto que até mesmo a intervenção divina se dá através dos astros. Por isso, os corpos celestes não são apenas signos da vontade divina mas também – e sobretudo – seu instrumento de interferência, genuíno e indispensável.

Vemos, na obra de Pomponazzi, uma tentativa muito peculiar de fundamentar a Astrologia visto que o que impera nela não é o legítimo impulso humano de adivinhar as infinitas possibilidades que o futuro lhe reserva e nem a vontade de determinar as condições necessárias para uma boa investigação, premissas da ciência moderna: é mais do que isso. O que Pomponazzi faz é admitir que a causalidade astrológica é a única capaz de explicar a heterogeneidade dos fenômenos terrestres, sendo a condição de inteligibilidade da Natureza. Ademais, era também a única alternativa de que dispúnhamos para enfim compreender os fenômenos mágicos e inexplicáveis – transformando assim Astrologia num instrumento de compreensão racional do mundo, por mais paradoxal que isto possa aparecer. Percebemos, assim, o verdadeiro objetivo das reflexões levantadas pelo autor: ele quer colocar o conhecimento no lugar da fé – levando adiante o empreendimento de encontrar uma explicação imanente para algo que só era explicado de maneira transcendente.

Se o resultado, por um lado, aparece como o triunfo da cosmovisão astrológica, por outro lado demonstra uma grande divisão que ela sofre em seu seio visto que desde os primórdios a Astrologia já se mostrava com um conhecimento de duas faces: se como teoria ela procurava revelar as eternas leis do universo, na prática estava sob o signo da magia e das formas mais primitivas de causalidade religiosa que, a partir de então, se via extirpada. Desse modo, o elemento puramente primitivo da crença nos astros é afastado e em seu lugar permanece apenas a noção de uma única lei inviolável que rege os acontecimentos e que desconhece qualquer exceção ou acaso: a causalidade espiritual cede lugar à causalidade natural, típica do conhecimento científico que começa a surgir.

2) MARSILIO FICINO e o poder da escolha humana (1433-1499)


Na cosmologia de Ficino, os corpos celestes podiam agir somente sobre o corpo físico do homem, sem contudo afetar o seu espírito e sua vontade. E isto porque, se os corpos físicos se encontravam sob o domínio das leis naturais, e se a alma – que está ligada ao corpo – se encontrava também sob o domínio destas leis, cabia justamente ao componente puramente espiritual do homem a função de se libertar destas forças.

Desse modo, o que se chamava de “a liberdade do homem” era o fato de que ele, sob o jogo dessas forças, podia se submeter ora a uma e ora a outra por um ato de escolha: ainda que por nosso próprio espírito estejamos sujeitos à Providência, e por nossa sensibilidade ao Destino, e por nossos corpos à lei da Natureza, ainda assim somos – e desta vez graças à nossa razão – senhores de nós mesmos (nostri juris) e estamos livres de toda e qualquer determinação visto que cabe a nós escolher a qual força iremos nos submeter.

Por isso, apesar de não ser concedido ao homem a possibilidade de escolher seu astro e, em decorrência disso, suas características físicas e morais, ele se encontrava livre para fazer suas escolhas dentro dos limites que seu planeta prescrevia. Se, por um lado, Saturno é o demônio da indolência e da melancolia infrutíferas, por outro ele é também o gênio da observação e da profundidades intelectuais: da contemplação. Essa polaridade – característica dos astros e expressa claramente pela tradição astrológica – abre caminho agora para o livre arbítrio do homem. Afinal, se a esfera do querer e do realizar está rigidamente determinada para homem, a direção deste querer não o está. Desta forma, Ficino dá continuidade a um pensamento típico da tradição astrológica: a filiação planetária, muito embora lhe acrescente um dado muito importante – de que o homem tem o poder de escolher a quais das forças irá se submeter.

Por isso é que ele definia a alma como o meio espiritual do mundo, como o terceiro reino entre o mundo inteligível e sensível. Ela contém o superior mas nem por isso abandona o inferior, e não se contenta com um único movimento, em subir ou em descer pois preserva em si a liberdade de uma mudança total de direção. E esta direção não lhe é dada a partir do exterior mas procede de dentro de si mesma. Por isso, a alma não é atraída para baixo, para o mundo sensível, por um desígnio superior ou por força da natureza; da mesma forma, não é elevada a um plano superior por força da graça divina, recebendo-a passivamente. Ela, a alma, sobe aos céus ou desce à Terra porque assim o deseja e quer e por ter força suficiente para se auto-determinar neste percurso.

Para Ficino, o laço que une cada homem ao seu planeta por ocasião do momento do seu nascimento é indestrutível – e é por isso, por ser “filho de Saturno”, pelo fato de Saturno figurar no ascendente do seu mapa natal, que lhe era negada por exemplo a bem-aventurança com que Júpiter havia premiado outros seres humanos que não ele próprio. Foi através desta argumentação – que pode soar a princípio paradoxal – que o reconhecimento no destino astrológico não impediu e não se contrapôs à autonomia e liberdade humanas.

Esboço para uma possível conclusão – ou para uma possível pesquisa.


A hipótese que aqui pretendo demarcar para uma investigação mais profunda é de que a visão unificada da Natureza, do Homem e de Deus se rompe definitivamente a partir da Renascença – o que leva a Astrologia a se tornar praticamente inconcebível ao longo dos séculos que se seguem, não encontrando o seu lugar devido dentro do conjunto da cultura humana. A partir do momento em que o ser humano mergulha e afunda sua inteligência no plano físico e material, e à medida que passa a fazer isto com exclusividade, buscando sobretudo uma razão que antes era compartilhada com o próprio Homem e com Deus, rompe não só o quadro onde a Astrologia se mostrava possível mas também submete a validade de todo e qualquer saber aos critérios e atributos que são exclusivos do mundo natural. Isto é feito de tal modo que o advento das Ciências Modernas que se inaugura no séc. XIX se torna a investigação da dimensão física amputada de seu sentido metafísico, senão espiritual.

Por isso, é possível supor que a fragmentação da cosmologia que reinou até a Idade Média corresponde simultaneamente à fragmentação dos saberes; de tal modo que, enquanto as Ciências da Natureza e as Ciências do Homem passam a se sobressair, toda a moldura metafísica e espiritual na qual elas estavam inseridas é perdida totalmente de vista, se tornando esquecida e, por que não dizer, soterrada. Formamos, nós modernos, uma sociedade e um cultura cujos saberes não fazem sentido; estão esvaziados de uma significação última que se via até então resguardada pela plena soberania da dimensão metafísica e espiritual.

A hipótese que pretendo demarcar é exatamente esta: de que o “quadro de referência” (ou seja: a episteme) com que se entendia e se interpretava todas as coisas do mundo era de natureza cósmica, era do tamanho do cosmos – e, dentro deste universo intelectual, a Astrologia se tornava um saber admissível justamente porque a estrutura cósmica era tomada como o modelo, a medida e o critério de entendimento do mundo, se tornando o seu princípio de inteligibilidade. Esta condição, por incrível que pareça, revela as estreitas conexões existentes entre Cosmologia e Epistemologia, como se elas fossem os dois lados de um única e mesma moeda que dava o devido aval e suporte ao saber astrológico.

No entanto, tendo o “quadro de referência” mudado a partir da Renascença, isto é, tendo várias rupturas epistemológicas se processado, não só o entendimento de mundo se alterou como também a Astrologia deixou de ser concebida como um campo do saber.

Por isso, se a Astrologia é e sempre foi um princípio de inteligibilidade do mundo, carregando por isso mesmo o título de Mathesis Universalis, e se ela é as vezes chamada pela própria comunidade astrológica de A Grande Ciência ou A Grande Arte, vemos que, pela sua própria natureza, ela excede e ultrapassa questões e problemáticas que são típicas e inerentes ao âmbito científico pois exigem, para sua plena compreensão, noções que fazem parte do âmbito filosófico, religioso e até mesmo estético. Por isso, se a Astrologia é esta grande “Arte-Ciência” como dizem, e se ela carrega, pela sua própria envergadura, noções filosóficas, religiosas, científicas e estéticas, só podemos admitir que ela traz em si toda a problemática que cada um destes saberes já carrega por si só, demonstrando que a Astrologia é um grandiosíssimo problema – um grande problema cultural ainda a ser resolvido e desvendado, a que não foi dado o devido tratamento.

Isto aponta para a hipótese de que a unificação dos saberes, isto é, a tentativa de ver toda a produção cultural humana dentro de um único conjunto, é uma tentativa que irá despertar discussões de natureza astrológica visto que o debate interdisciplinar e transdisciplinar, tão em voga, retomam o tema da integridade e organicidade dos saberes, isto é, de que há uma ordem capaz de englobar, num único conjunto, os conhecimentos de ordem natural, humana e religiosa.

Esta ideia de que há uma ordem capaz de englobar, num único conjunto, os conhecimentos de ordem natural, humana e religiosa é uma idéia propriamente astrológica, senão o seu fundamento. Afinal, qual dos saberes postula a existência de uma ordem que atravessa planos tão diversos, mostrando que há uma analogia e uma identidade de fundo que os iguala? Que saber é este?Este saber é o saber astrológico.

(1) O Renascimento Italiano, Editorial Presença, Lisboa, 1987.

(2) Indivíduo e Cosmos na Filosofia do Renascimento, Ernst Cassirer, Martins Fontes, 2001.

BIBLIOGRAFIA

FILOSOFIA E COSMOVISÃO, de Mário Ferreira dos Santos, Ed. Logos, 1958.

INTRODUÇÃO HISTÓRICA À FILOSOFIA DA CIÊNCIA, de John Losee, Ed. Itatiaia, 1979.

INDIVÍDUO E COSMOS NA FILOSOFIA DO RENASCIMENTO, de Ernst Cassirer,Ed. Martins Fontes, 2001.

O ZODÍACO DA VIDA, de Eugénio Garin, Ed. Estampa, Portugal, 1997.

IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO, de Eugénio Garin, Ed. Estampa, Portugal, 1994.

O RENASCIMENTO ITALIANO, de Jacob Burckhardt, Ed. Presença, Portugal, 1987.

PENSAR NA IDADE MÉDIA, de Alain de Libera, Ed. 34, 1999.

ENSAIOS FILOSÓFICOS, de Susanne K. Langer, Ed. Cultrix, 1971.

CIÊNCIA COMO CONSCIÊNCIA, de Edgar Morin, Ed. Bertrand do Brasil, 2001.

OS SETES SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO, de Edgar Morin, Ed. Cortez, 2000.

Rio de janeiro, 04 de Outubro de 2004

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