Espaço do Céu - Astrologia
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Celisa Beranger
A Crise da Zona do Euro 2013:
Teoria e Método em Astrologia Mundial
Autor(a):
Nicholas Campion – Tradução: Angela Nunes
em
15 de junho de 2013
A questão diante de nós é: “Como abordarmos questões de astronomia política em relação ao tempo presente?” Eu uso o termo “astronomia política” como uma alternativa à astrologia mundial por duas razões. Uma é que, no período pré-moderno, os termos astrologia e astronomia não eram distintos. A outra é que o uso dos ciclos planetários, de forma a medir e predizer eventos políticos, descarta quase toda a elaboração técnica da astrologia horoscópica convencional, isto é, as casas não são importantes, nem os signos do zodíaco, exceto como meios de medir posições astronômicas. Nós poderíamos também usar o termo favorito de Richard Tarnas – cosmologia arquetípica.
A astrologia mundial moderna é, principalmente, uma prática sem teoria. Mas uma prática sem teoria não tem meios de entendimento ou de desenvolvimento de si mesma. Não há também um método consideravelmente sistemático na astrologia mundial contemporânea. Para estabelecer ambos é necessário referir-se às autoridades do passado na disciplina.
A prática do uso dos ciclos planetários, para avaliar ou predizer eventos políticos, encontra sua literatura original em uma passagem do Timaeus de Platão, datado do início do quarto século aC:
“Portanto, como uma consequência desta consideração e propósito por parte de Deus, visando à geração do Tempo, do sol e da lua e das outras cinco estrelas, as quais sustentam a designação de “planetas” [i.e., ‘errantes’], vieram à existência para determinar e preservar os números do Tempo. (Timaeus 38C)”
Nós não deveríamos prestar demasiada atenção à palavra “Deus” aqui empregada, pois o criador de Platão é melhor entendido como uma remota Mente original, ou como Consciência, não como um Deus pessoal, antropomórfico, Cristão, Judeu ou Islâmico. Se removermos as inferências religiosas do uso da palavra “Deus” da teoria político-astronômica de Platão, o Timaeus estabelece as seguintes hipóteses:
1. Todos os eventos políticos no mundo material se originam como intenção.
2. Todos os fenômenos no universo, incluindo intenções, eventos políticos e ações físicas, mudam e movem-se adiante no tempo em uma sequência matematicamente mensurável.
3. Como todas as coisas no universo são parte de uma única ordem matematicamente mensurável, planetas e política são parte de uma mesma ordem.
4. A sequência matemática de mudanças em todas as coisas, incluindo a política, pode ser medida pelos movimentos dos planetas.
5. Como os planetas retornam periodicamente à mesma posição, mudanças políticas são também caracterizadas pela repetição periódica. Em parte alguma, no entanto, Platão sugere que a repetição é em termos de detalhes exatos; ao contrário, ela é de tema geral.
Tal sistema, seguindo a descrição normal da cosmologia Platônica, pode ser chamado de Idealista. De um modo geral, o sistema de Platão assume uma forma de determinismo no qual, à medida que o momento de eventos futuros pode ser previsto pela projeção das posições planetárias no futuro, segue-se que a natureza geral de futuros eventos políticos já existe, mesmo que somente em estado potencial. Esses eventos futuros têm um tipo de existência a qual sugere que deve haver uma fórmula de previsão: “Quando o planeta ‘a’ está aqui, então ‘x’ pode ser esperado, ou, de modo mais complexo, “Quando o planeta ‘a’ estiver aqui e o planeta ‘b’ estiver lá, então ‘y’ pode ser esperado. Isto não é diferente da fórmula entendida pela astronomia política babilônica: “Se ‘a’ ocorre astronomicamente, então ‘b’ deve ocorrer.” Não há sugestão de causa ou influência, mas de correlação.
Contudo, o determinismo platônico é moderado pela possibilidade da ação humana e da livre escolha adquirida pela “virtude” e educação apropriadas. Como escreveu Claudio Ptolomeu em sua discussão sobre astrologia médica egípcia, “Eles [os astrólogos] nunca teriam concebido certos meios de evitar e de afastar as condições universais e particulares, que ocorrem ou estão presentes em virtude do ambiente, se eles achassem que o futuro não pode ser movido ou mudado.” (Tetrabiblos 1.3). Na cosmologia ptolomaica, portanto, o único propósito de previsão é mudar o futuro, certificando-se de fato de que as previsões indesejáveis não sejam cumpridas. Neste sentido, a astrologia não pode ser testada pelo sucesso de suas previsões, pois suas falhas devem ser um indicador mais confiável de engajamento efetivo dos astrólogos no processo político. Apesar disso, existe um espectro de atitudes de gestão do futuro e, como nos movemos mais voltados para uma perspectiva estóica do que para uma perspectiva platônica, o espaço para a ação humana é restrito, o componente determinista torna-se mais forte, e existe mais de um pressuposto de que a previsão astrológica pode ser detalhada e exata.
A importância da ação humana foi enfatizada pelo maior teórico da astronomia política platônica do início da era moderna, Johannes Kepler. Ele acreditava, seguindo Ptolomeu, que o propósito da previsão era mudar o futuro. Uma vez que os problemas tinham sido previstos, ele argumentava que eles poderiam ser evitados por uma liderança militar: “Uma grande proteção para a o exército”, escreveu ele, “situa-se em sua lealdade e alta estima para com seu comandante; portanto, cada vitória depende de uma força motriz do espírito” (Tese 72). Em termos práticos, isto significava que todas as previsões de eventos futuros tinham que ser condicionadas à ação política mediatória. Em sua Tese 72, falando da futura conjunção Marte-Saturno de 1602, Kepler escreveu: “Se uma paz vigorosa cresce de modo seguro no meio-tempo, claramente não há perigo que parta do céu isoladamente”. A chave para a estabilidade na astronomia política kepleriana é a gestão política sensata. “É preferível que a paz e tranquilidade prevaleçam”, escreveu Kepler, “e se a rebelião é temida, não deixe que as reuniões sejam organizadas em agosto e setembro [1602], ou deixe que elas sejam divididas; ou, melhor ainda, permita que as causas que exasperam as disposições das pessoas sejam rapidamente afastadas ou, pela introdução de alguma nova intimidação, deixe que suas mentes sejam mudadas” (Tese 71). A teoria de Kepler pode ser chamada de Pragmática em termos de que ela requer uma resposta política flexível para problemas imediatos.
Existem outros posicionamentos teóricos que se relacionam com a avaliação dos movimentos planetários. Um deles é que, quanto mais lentamente o planeta se move, mais significativos são os eventos políticos com os quais ele se correlaciona. Outro é que o Sol é o mais importante dos planetas astrológicos. Ambas estas proposições são geralmente assumidas na literatura.
Isto nos leva à crise da Zona do Euro. As opiniões sobre o seu futuro têm sido polarizadas nos últimos três anos, desde 2009. A previsão determinista sustenta que a lógica inexorável das dívidas requer uma quebra. Possivelmente, isto pode ser total ou parcial e, se parcial, talvez os membros do norte europeu possam permanecer como membros. O posicionamento determinista é parcialmente econômico e baseado na noção de que o nível da dívida atual não pode ser sustentado, e somente pode ser resolvido se for permitido a países individuais reverterem para suas antigas moedas e desvalorização. A partir disto, segue-se um segundo determinismo político no qual a suposição é de que a resposta democrática às atuais medidas de austeridade para a redução de dívidas pode ser a expulsão dos governos pró-austeridade, um consequente agravamento da crise e, daí em diante, o triunfo do determinismo econômico e do inevitável colapso da economia. A alternativa, em que os políticos europeus estão trabalhando, é alcançar uma solução na qual a estabilidade política é mantida, reformas econômicas e medidas de austeridade são implementadas na esperança de que a dívida da crise será, no final das contas, conduzida sob controle. É esta política que os deterministas da economia desafiam. Como a crise tem desdobramentos, especialmente porque a crise grega tem retraído e avançado, cada lado tem sido dominante por sua vez, pelo menos na imprensa britânica, com a qual estou mais familiarizado. Cada visão concorrente está conectada com uma metafísica do tempo. Os deterministas da economia assumem implicitamente que o colapso da zona do euro, sendo inevitável, já tem uma espécie de realidade. Eles não podem declarar isso explicitamente, mas está implícito em seu modelo.
O que poderíamos chamar de a “mentalidade astrológica” de Platão, Ptolomeu e Kepler, difere substancialmente de uma mentalidade não-astrológica. Talvez os melhores termos para as duas fossem a mentalidade Idealista, seguindo Platão, e seu oposto, a Materialista. A mentalidade Idealista assume um nível de determinismo matemático em eventos políticos e, baseando-se nos ciclos planetários como um sistema de medida, sustenta portanto que pode avançar indefinidamente de forma a identificar períodos críticos, especialmente pontos de mudanças decisivas, que parecem ser imprevisíveis em sistemas convencionais. O método astrológico, através de sua concepção de repetição cíclica, sustenta que pode predizer recuperações e declínios que, de outro modo, seriam inesperados. A mentalidade Materialista faz previsões projetando as condições atuais à frente; tais projeções são geralmente baseadas em tendências atuais conjugadas com o evento mais recente. Assim, as projeções de crescimento estão sendo constantemente aumentadas e reduzidas: “A Zona do Euro irá crescer em torno de x% no terceiro trimestre deste ano e y% em 2014.” Contudo, a desvantagem deste modelo convencional, Materialista, é que ele não consegue dar conta do inesperado – logo que as condições atuais mudam, todas as projeções futuras devem ser alteradas. Os métodos de previsões convencionais são, portanto, inerentemente falhos. A suposição básica de que tendências atuais podem ser projetadas num futuro indefinido, mesmo quando existe o entendimento do ciclo de negócios, é insustentável. A pretensão do modelo Idealista por previsibilidade deve consistir, no mínimo, da previsão de que futuros períodos identificáveis possam ser definidos como críticos. A consequência é a ocorrência de eventos que parecem acontecer ao acaso e que podem, é claro, derrubar a previsão Materialista.
Contudo, este não é o quadro todo, pois existe uma escola de previsão econômica determinista que depende das análises dos ciclos de negócios, os quais têm existência matemática ou orgânica em que o potencial econômico futuro de altas e baixas já está fixado no tempo. Ideologicamente, tais práticas repousam sobre as mesmas premissas das previsões astrológicas cíclicas, apenas sem o uso das posições planetárias como instrumento de medida.
Portanto, quando consideramos a crise da Zona do Euro, a posição Idealista deve ser a de que não existe solução até a separação do mais importante alinhamento planetário atual, a lenta quadratura Urano-Plutão. Além disso, a hipótese é de que momentos críticos futuros no drama da Zona do Euro podem ser previstos. A hipótese Idealista é de que deve haver mais desses momentos de crise na Zona do Euro durante o restante do período em que a quadratura estiver em orbe – isto é, até o início de 2015.
A teoria de Platão, herdada e adaptada até o século vinte, mantém que eventos críticos devem coincidir com aspectos zodiacais “difíceis” de 0°, 90° e 180°. Segue-se então um método no qual os aspectos com orbes de 1°, e não mais do que 2°, são mapeados em termos de indicar pontos críticos. Admitido isto, embora de uma maneira na qual momentos críticos identificados não são sistematizados e a argumentação precisa ser mais coerente, o método é essencialmente esse:
1. O aspecto deve ser exato ou tão próximo do exato quanto possível.
2. Outros planetas superiores devem estar em aspecto.
3. Luas Novas e Cheias, especialmente os eclipses, devem também aspectar a configuração dominante.
4. Aspectos aos horóscopos mundiais para momentos significativos, incluindo mapas de nações, devem ser considerados.
A outra hipótese que devemos mencionar, sem que isso seja demasiado óbvio, e apesar das medidas complexas de tempo da astrologia convencional horoscópica, é que a manifestação de um evento deve se correlacionar no tempo com o padrão astronômico. Existe uma grande quantidade de descrições informais correlacionando movimentos astronômicos e eventos políticos, mas pouco foi tentado em termos de estudos sistemáticos. Neste caso, vamos presumir que estamos interessados em conjunções, quadraturas e oposições de outros planetas superiores em relação a Urano e Plutão. A situação em 2013 e 2014 é, então, como se segue:
2013
Março: Marte em Áries faz conjunção a Urano no dia 22 e quadratura a Plutão no dia 27 de março.
Maio: Urano faz quadratura a Plutão nos dias 20-21.
Julho: Marte em Câncer faz oposição a Plutão nos dias 27-28.
Agosto: Marte em Câncer faz quadratura a Urano no dia 1º; Júpiter em Câncer faz oposição a Plutão no dia 06 e quadratura a Urano no dia 21.
Novembro: Urano faz quadratura a Plutão no dia 1º.
Dezembro: Marte em Libra faz oposição a Urano no dia 25 e quadratura a Plutão no dia 31.
2014
Fevereiro: Júpiter em Câncer faz oposição a Plutão no dia 1º e quadratura a Urano no dia 26.
Abril: Júpiter em Câncer faz oposição a Plutão e quadratura com Urano nos dias 19-20; Urano faz quadratura com Plutão no dia 21; Marte em Libra faz oposição a Urano e quadratura a Plutão nos dias 23-24.
Junho: Marte em Libra faz quadratura a Plutão no dia 14 e oposição a Urano no dia 25.
Novembro: Marte em Capricórnio em conjunção a Plutão no dia 10 e em quadratura a Urano no dia 13.
2015
Março – Marte em Áries está em conjunção a Urano e em quadratura com Plutão no dia 11; e Urano e Plutão estão em quadratura no dia 17.
Baseando-se nisso, qual é a indicação mais poderosa? Um aspecto de Marte a uma quadratura exata de Urano-Plutão, como em abril de 2014? Ou será que Júpiter acrescenta algum significado? Neste caso, julho-agosto é a indicação de máxima pressão em 2013. Em 2014, o final de abril e o início de maio são os pontos máximos.
Os dois momentos mais importantes da astrologia mundial são aqueles da Comunidade Econômica Européia e do surgimento do Euro, que os europeus desenvolveram a partir dela. (1) Dado que o Sol em ambos os dias estava em 10° de Capricórnio, e a proposição de que os trânsitos dos planetas exteriores assumem significado maior quando aspectam posições nos principais horóscopos mundiais, Urano começa a se mover significativamente para fora de orbe em abril de 2014, seguido por Plutão em novembro e dezembro de 2014. O final da quadratura Urano-Plutão, em março de 2015, pode ser significativo em si mesmo, mas não pelo seu aspecto em relação às datas de fundação da União Européia e do Euro. (veja os mapas abaixo).
Portanto, em termos platônicos, julho-agosto de 2013 e abril-maio de 2014 são momentos em que o campo Ideal está em estado de tensão máxima, suficiente para indicar um evento tal como a ruptura da Zona do Euro. A dificuldade com a previsão é a incerteza, e o modelo platônico integra isso em seu pensamento. Se formos Deterministas Estóicos, devemos olhar para julho-agosto de 2013 e abril-maio de 2014 e predizer claramente, para ambos os períodos ou para um deles: “A Zona do Euro se romperá.” Contudo, se formos Pragmatistas Keplerianos, nossas previsões sobre a ação política mediadora devem ser condicionais; liderança política bem sucedida significa que a ruptura da Zona do Euro nos períodos especificados não é inevitável, mas menos possível. A previsão Kepleriana deve, contudo, estar alicerçada condicionalmente: “Se a Zona do Euro estiver para romper-se, e medidas para salvá-la forem mal sucedidas, os períodos mais prováveis são julho-agosto de 2013 e abril-maio de 2014.” Um kepleriano adicionaria um aviso tal como, por exemplo, “O Banco Europeu deve aumentar a liquidez,” ou “Acordos sobre uma maior integração financeira deveriam ser finalizados antes de julho de 2014.” Em cada caso, a previsão não é feita em termos de uma avaliação astrológica apenas, mas sim alinhada com uma teoria sobre astrologia. Além disso, em cada caso, o resultado político nos conta, em seus próprios termos, sobre as pretensões de uma versão mais estóica contra uma versão antes de tudo platônica da astrologia política.
Nota do Editor:(1) A União Européia (anteriormente conhecida como Comunidade Econômica Européia, CCE): 1º de janeiro de 1958, 00:01 CET, Bruxelas; e o Euro: 1º de janeiro de 1999, 00:01 CET, Bruxelas. Fonte: The Book of World Horoscopes, Nicholas Campion, Wessex Astrologer Ltd, 3ª edição, 1999.
BIOGRAFIA: Nicholas Campion é Conferencista Senior na Escola de Arqueologia, História e Antropologia, e diretor do Sophia Centre para o Estudo da Cosmologia na Cultura, University of Wales Trinity Saint David, UK. É diretor do curso de mestrado de ensino à distância da Universidade em Astronomia Cultural e Astrologia. Seus vários livros incluem Mundane Astrology (Aquarian Press, 1984), The Book of World Horoscopes (Aquarian Press, 1987), History of Western Astrology, dois volumes (Continuum, 2008/9), Astrology and Cosmology in the World’s Religions (New York University Press, 2012) e Astrology, Prophecy and the New Age (Ashgate, 2012).Volumes editados incluem Cosmologies (Sophia Centre Press, 2010) e, com Liz Greene, Astrologies (Sophia Centre Press, 2011). É editor de Culture and Cosmos. Seu principal interesse é em como o conhecimento astrológico é construído e representado, e em concorrentes afirmações de verdade entre escolas diversas do pensamento astrológico, em qualquer período de tempo e em qualquer cultura.
Rio de Janeiro, 15/06/2013
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