Espaço do Céu - Astrologia
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Celisa Beranger
Do Mapa ao Território
Autor(a):
Silvia Ceres (Argentina)
em
9 de outubro de 2010
Mediante este trabalho procuro responder a várias inquietações suscitadas ao longo de anos de trabalho como consultora astrológica.
Uma primeira pergunta pode ser formulada assim: como passar do gráfico, expresso nas duas dimensões do plano – altura e largura – para a síntese de uma terceira dimensão – profundidade – que aparece na entrevista com a presença do cliente?
Isto se percebe especialmente nos primeiros tempos de atividade, quando a insegurança profissional obriga a redigir extensos relatórios prévios ao encontro com o dono do mapa. Muitas elucubrações – talvez teoricamente corretas- se distanciam bastante das experiências vividas pelo indivíduo, gerando uma ampla brecha entre o enunciado e o experimentado.
Passar das duas dimensões a uma terceira poderia resumir-se na expressão utilizada por Korzybsky, em seu livro Science and Sanity (1938): “o mapa não é o território”.
A frase se originou em uma teoria da comunicação denominada Programação Neuro Lingüística (PNL), centrada na experiência humana subjetiva, nas formas em que cada indivíduo percebe e descreve uma determinada situação da realidade, filtrada mediante os sentidos, os modelos mentais, as experiências prévias, etc.
Um mapa é uma representação abstrata, limitada a um marco determinado. Por exemplo: a estrada entre São Paulo e Rio do Janeiro, desenhada em uma escala estabelecida pelo cartógrafo, reforçando certos marcos, de acordo com o uso que o mapa ofereça: acidentes geográficos, hotéis, restaurantes ou postos de abastecimento de combustível.
Da mesma maneira, o mapa natal é uma representação do céu para um momento e lugar determinados pelo nascimento do nativo. É de consenso geral desenhar os planetas, as casas, os aspectos. Alguns astrólogos – de acordo a sua linha de trabalho pessoal – acrescentam estrelas fixas, asteróides, aspectos menores, pontos sensíveis, etc. Assim mesmo podem ser implementados diferentes orbes planetários ou distintos sistemas de casas. Então, com maiores ou menores variantes, fica traçado um gráfico compreensível para quem conhece o código astrológico.
Um território – geograficamente falando – inclui os seres que ocupam esse espaço, os aromas, as cores, as texturas da paisagem, as fendas ou promontórios do solo, adicionando vida ao mapa.
Astrologicamente, o território está constituído pelas diferentes vivências, a história pessoal, o contexto familiar, a pertinência sócio cultural, que foi remarcando e dando vida aos diferentes setores do mapa.
Normalmente, uma consulta astrológica implica a interpretação da carta natal – um esquema estável. Em seguida damos um salto no tempo ao aqui e agora para atualizar – mediante variados sistemas preditivos – as tendências do momento e o futuro.
Porém como o mapa natal começou a adquirir movimento? Que pistas foram desenhando caminhos para transformar o mapa abstrato no território habitado pelo sujeito?
Um exemplo expressará melhor o assunto teórico. Um trânsito de Urano pela casa III pode em princípio, significar um distanciamento entre irmãos ou vizinhos, uma predisposição a espasmos bronquiais ou uma ativação do trabalho intelectual, o que não significa que tudo isso ocorra simultaneamente com a pessoa.
Sem dúvida, o esquema geral da carta inclinará a escolher como provável uma ou outra opção. Uma primeira resposta pode ser dada pela supremacia de planetas nos diferentes ritmos.
O cardinal – por sua atenção centrada no objeto, no externo – facilita um comportamento de distanciamento frente ao meio ambiente.
O fixo – cujo foco se centra no sujeito – provavelmente comprometa mais o físico.
O mutável – por sua função de síntese sujeito / objeto – tende a destacar a atividade mental.
Embora esta aproximação ajude a selecionar os acontecimentos prováveis na vida do nativo, não consegue explicar o estilo pessoal com que cada indivíduo ativa as tendências de seu mapa.
A esta exposição básica se somou a experiência na interpretação de mapas natais de crianças, que inclui prestar atenção – a partir do ponto de vista preditivo – a curtos períodos de tempo, devido aos poucos anos de vida dos nativos.
Isto me levou a observar que os movimentos que se realizam pela primeira vez, devido à premissa axiomática da astrologia de que o início de algo –uma vida, uma ocorrência, etc. – participam das características do desenvolvimento posterior desta semente – matriz de origem.
Os primeiros deslocamentos – entre os dois e três anos de idade – da Lua progredida, Saturno e Marte em trânsito, desencadeiam uma dinâmica, um relevo do terreno, que caracterizam marcas e vivências que constituirão posteriormente o estilo do sujeito.
Estilo com qual o indivíduo responderá aos estímulos planetários que são mobilizados pelas direções, trânsitos, revoluções, ou qualquer outro método eleito para avaliar as tendências de um tempo determinado.
A proposta é compreender a quem afeta o movimento, que tipo de subjetividade implementará uma resposta, antes de um planeta ser ativado por outro. Podemos observar variações notáveis de reação frente a deslocamentos teoricamente similares.
Há alguns anos presenciei o diálogo entre dois colegas que comentavam o efeito da passagem de Saturno sobre seus respectivos Ascendentes. Enquanto um deles comentava que dormia menos que de costume, o outro mencionava exatamente o contrário. O notável era que compartilhavam o mesmo signo ascendente e a mesma posição do Saturno natal.
A curiosidade me levou a perguntar quanto dormiam habitualmente. Enquanto um respondia não menos de 9 horas, o outro afirmou que não mais de 5. Inferi que a passagem de Saturno recordava a ambos que era hora de viverem como adultos: não é preciso dormir como uma criança, nem acreditar ser um super homem incansável.
O mesmo trânsito produzia duas respostas subjetivas antagônicas, porque acontecia a indivíduos de hábitos distintos.
Para perceber então as diferenças, é necessário analisar o contexto, sobre a significação, a interpretação que o sujeito realizará do acontecimento – Júpiter – antes da observação detalhada de Mercúrio. A pergunta que precisa ser feita antes de “o que acontece” é “a quem acontece”.
Em síntese, o sujeito que interpreta e responde ao estímulo (quem?) é prioritário ao objeto estimulador (o que).
Os rastros de memória
Sigmund Freud utiliza esta expressão ao longo de sua obra para designar a forma como se inscrevem os acontecimentos na memória. Estas marcas se depositam em distintos sistemas, persistindo de modo permanente na forma de certa energia psíquica unida a um grupo de representações –corporais ou de objetos – e se reativam frente a situações de certa semelhança na vivência do sujeito.
Embora um acontecimento possa inscrever-se em diferentes sistemas mnêmicos, existe uma predisposição a que uma determinada via seja seguida com preferência a outra.
Até aqui é a posição do pai da Psicanálise. Porém cabe perguntar o que determina no indivíduo sua inclinação a privilegiar um caminho em relação aos demais?
A partir da perspectiva astrológica podemos responder que nos primeiros deslocamentos dos três planetas enunciados anteriormente – Lua, Saturno, Marte – se encontra a chave da resposta.
Sistema Lua. Interioridade.
O conhecimento astrológico frequentemente a associa com o passado, o útero, a proteção, a nutrição, a segurança interior, a emocionalidade, a dependência, funções que em princípio estão relacionadas ao papel materno.
A prematuridade da criatura humana, em comparação a outros mamíferos, obriga a que se constitua um forte vínculo com o exterior como condição indispensável para a sobrevivência, não só física, mas também psíquica.
Depende então do papel materno – não obrigatoriamente desempenhado pela mãe biológica – atender às necessidades do bebê. Um bebê que em sua existência uterina se manteve em estado de homeostasis, de equilíbrio, de “nirvana” e que a partir do nascimento começa a sentir fome, dor, frio. Algo perturbador dentro de si, que só pode ser acalmado por alguém fora de si.
Caso a criança seja bem assistida quando surgem estas inquietantes sensações, é previsível que constitua então uma relação amigável com suas percepções internas. Porém, se ao contrário, sentiu-se desatendido, abandonado ou inadequadamente cuidado, a relação com a própria interioridade ficará carregada de conflitos. Sintetizando, estamos falando de uma melhor ou pior configuração lunar. A associação da Lua com a função materna, e desta com a atenuação das pulsões é bastante visível. De maneira que pode constituir uma cadeia significante com:
– LUA
– FUNÇÃO MATERNA
– MUNDO INTERIOR – percepções, sensações
– PULSÕES – fome, sede, frio
– ID – na segunda teoria freudiana do aparelho psíquico, constitui o pólo pulsional, o reservatório primário de energia psíquica.
Vejamos, no momento do nascimento a Lua pode localizar-se em qualquer dos quatro elementos, outorgando cada um uma forma de resposta emocional, que a princípio será projetada sobre a figura materna. A partir dos 14 anos – quando em sua progressão a Lua se opuser a si mesma – poderá começar a compreender que a resposta emocional não é só uma consequência do exterior e sim algo de si mesmo.
O que acontece durante os 2 ou 3 primeiros anos de vida? A Lua de Fogo passa a Terra, a de Terra a Ar e assim sucessivamente.
A questão seria mais ou menos deste modo: troca-se a impaciência (Fogo) pelo conformismo (Terra). “Eu quero já, mas tenho que esperar um pouco para ser satisfeito“.
O suportar (Terra) transforma-se em racionalização ou em querela (Ar). “Sou paciente para esperar que me atenda, mamãe não me faz esperar por ser má, mas sim porque está muito ocupada“, ou melhor, “Porque sou paciente ela me deixa para o final, se eu armasse um pequeno escândalo com certeza ela viria correndo“.
A argumentação (Ar) torna-se retraimento ou reação emocional (Água) “Entendo as dificuldades de mamãe, portanto guardo minhas necessidades, afinal de contas ela não vai mesmo satisfazer todas” ou também “Entendo as dificuldades, mas estou farto, agora vão me escutar ainda que não queiram“.
A sensibilidade (Água) se transforma em raiva (Fogo). “Já que ninguém percebe a sutileza de meus sentimentos eu vou impô-los“.
Embora a conduta descrita em primeiro lugar, seja a que marca claramente o estilo emocional do sujeito, a segunda funciona como mecanismo compensatório para suportar o tanto de frustração obrigatória, visto que existe um desencontro estrutural entre a pulsão e sua respectiva satisfação.
Um fator importante para avaliar as marcas traçadas pelo primeiro deslocamento lunar são os aspectos que vão se tornando partis, a partir da posição natal até a progressão de 30º a frente. Esses contatos sucessivos constituem o esboço de uma memória emotiva, fixam um sabor sobre as vivências vinculadas. Para compreender sua dinâmica, é necessário atender à natureza do luminar no signo e as qualidades do aspecto.
Por exemplo: Lua em Câncer, cujo primeiro aspecto partil é um trígono ao Júpiter em Peixes, que vai “adivinhar” cada uma de suas necessidades, outro possível trígono, a Vênus em Escorpião, deixará uma marca diferente, mais preocupada com suas vivências passionais ou o anseio de dominação, que ser cuidado pelo outro.
Sistema Saturno. Exterioridade.