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Artigos

O Problema dos Sistemas de Casas

Autor(a):

Celisa Beranger

em

2 de fevereiro de 2003

“De todos os problemas enfrentados pelos que praticama Astrologia, provavelmente o maior consiste nautilização de um ou mais sistemas de divisão de casas”.Emma BeIIe Donath

Domificar é dividir em casas. A Astrologia de domificação ou horoscópica (do grego horoskopos, que significa a marca da hora) tem pouco mais de 2 milênios. Surgiu na Grécia, onde, em seu grande desenvolvimento, a Astrologia passou a enfocar os destinos individuais, personalizando a visão do Céu.

A domificação é importante porque dá origem às casas, que constituem o fator mais particular ao nascimento. As casas particularizam o Céu para um indivíduo em um momento específico num dado local da Terra. São elas que emolduram o Céu para um local específico e a todo o momento estão sendo alteradas, porque estão relacionadas com o movimento de rotação da Terra. Sem a utilização das casas, torna-se difícil verificar a relação do homem com o seu meio, porque “as casas são os campos de ação e experiências onde os planetas (coloridos pelos signos) expressam sua natureza intrínseca”, afirmaram John e Peter Filbey.

A história da domificação começou no ano 140 a.C., no Egito, onde surgiu o primeiro sistema eclíptico de divisão, denominado signo casa. Alguns afirmam que seu autor é o filósofo e astrólogo Petosiris, outros dizem que este foi apenas um dos primeiros a definir e utilizar o Ascendente como um fator astrológico importante.

O sistema original consistia em tomar o signo ascendente como referência e fazê-lo corresponder à primeira casa, o signo seguinte à segunda e assim sucessivamente para as demais casas. Não havia, ainda, a indicação de um grau específico para o começo da casa.

Este sistema foi desenvolvido posteriormente com a colocação do grau ascendente na cúspide da primeira casa e, a cada 30º deste ponto, o início das casas seguintes. Esta modificação recebeu a designação de casas iguais e foi divulgada por Ptolomeu no “Tetrabiblos”, sem mencionar, entretanto, a autoria. Embora tenham surgido outros sistemas, a utilização das casas iguais permaneceu até a Idade Média, foi retomada no século passado, principalmente na Inglaterra, e até hoje é usada.

Através dos séculos, muitos outros sistemas foram desenvolvidos e classificados em Eclípticos (Porphyrius, Graduação Natural, além do Signo Casa e das Casas Iguais), Temporais (Alcabitius, Placidus, Koch, Topocêntrico) e Espaciais (Campanus, Regiomontanus, Morinus, Rotação Axial, Zenital, Ponto Leste). Seus autores foram estudiosos ou matemáticos que almejavam suprir falhas encontradas em sistemas anteriores. Os Eclipticos têm como base da divisão a eclíptica. os temporais enfocam o tempo sideral que um dado grau leva para percorrer o arco do Ascendente ao Meio do Céu (semi-arco diurno) e ao Fundo do Céu (semi-arco noturno).

Dentre os vários sistemas, poucos não consideram a correspondência dos pontos do Ascendente e do Meio do Céu com as cúspides das casas I e X (Morinus, Rotação Axial, Zenital e Casas Iguais). Entretanto, os mais aceitos e difundidos respeitam esta correspondência (Campanus, Regiomontanus, Placidus, Koch e Topocêntrico). Por este motivo, estes são denominados sistemas de quadrantes. Entretanto a questão de relacionar um corpo celeste com a Terra ainda não foi resolvida. Embora alguns sistemas tenham uma pretensão, maior que outros, não há acordo em relação ao método mais correto. Uns defendem Campanus como o matematicamente melhor, outros, Placidus como o mais tradicional e difundido, outros, Koch e outros ainda, o Topocêntrico (estes dois são os métodos mais recentes, Koch, do alemão que deu seu nome ao sistema e Topocêntrico, de Polich e Page da Argentina. Este último apresenta uma diferença pequena em relação ao Placidus).

É grande a variação das posições das cúspides das casas intermediárias quando comparamos vários sistemas. Apresentamos abaixo a posição destas casas para um nascimento em 15/10/54, às 10h.30min, em Paris (Latitude 48º 52′ Norte). Podemos observar que as diferenças são consideráveis.


Parte do problema é projetar uma figura tri-dimensional em uma superfície bidimensional. No século passado, alguns tentaram criar a figura tridimensional, como o inglês Norman Blundson e o francês Dom Néroman, utilizando a latitude além da longitude, mas nenhuma destas tentativas obteve popularidade.


Recordemos que o cálculo da posição das casas é o resultado da inserção da divisão da esfera celeste (esfera imaginária para abranger o Céu visível a partir da Terra, que está localizada no centro) no plano da eclíptica, a partir do local do nascimento. O grande problema para os matemáticos e estudiosos foi localizar o Zodíaco nas cúspides das casas, porque a ascensão de um signo no horizonte ocorre paralelamente ao equador celeste (projeção do equador terrestre na esfera celeste) e, devido à obliquidade da eclíptica (23º 27′), alguns signos ascendem muito mais rápido que outros e são por isto chamados de “curta ascensão” e outros, bem mais lentos, são denominados de “longa ascensão”. Para as latitudes entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio ( 23º 27’a norte e a sul, que correspondem aos limites da eclíptica), esta questão não é um problema tão grave, mas à medida que a latitude vai crescendo, afastando-se, portanto, da eclíptica, as deformações aumentam nos sistemas de quadrantes e as casas tornam-se muito desiguais.


Até mesmo na faixa entre os trópicos, embora com uma desigualdade menor, surge, muitas vezes, a questão da interceptação, quando duas cúspides situam-se em um mesmo signo e no seu oposto, enquanto em outro eixo, dois signos não recebem nenhuma cúspide. Interessante, aqui, é que em algumas casas, se optarmos por outro sistema, a interceptação pode desaparecer, ou mudar o eixo de signos interceptados. Isto nos leva a uma pergunta: qual o eixo deve ser considerado interceptado?


A domificação provoca um outro problema: o da interpretação de planetas nas casas, porque a mudança de sistema pode alterar a casa em que o planeta se localiza. Como lidar com esta condição, se a posição do planeta na casa é tão importante? Este é um dos motivos para a nossa defesa da interpretação de um planeta, situado a 5º antes da cúspide de uma casa, poder ser considerado não só na casa em que ele realmente se encontra, como também na casa seguinte, com cuja cúspide ele está em conjunção. É conveniente questionar a pessoa para saber em que área da vida o planeta funciona mais.


A partir dos Círculos Polares (latitudes 66º 33′ a norte ou a sul), entretanto, a situação agrava-se, tornando-se problemática inclusive para a ascensão ou a culminação, porque signos inteiros tornam-se circumpolares, ou seja, não ascendem e não culminam, levando a um movimento esquisito do Ascendente. No Círculo Ártico (a norte), a metade dos signos não ascende, pois, em 0º de Capricórnio , o Ascendente passa bruscamente para 0º de Câncer (deixando de percorrer, Aquário, Peixes, Áries, Touro, Gêmeos). Próximo da latitude 80º norte, o movimento é ainda mais curioso: apenas quatro signos chegam a ascender. Problemas similares ocorrem com o Meio do Céu.


Estas questões dificultam a utilização da domificação em latitudes altas e impossibilitam a aplicação dos sistemas de quadrantes. Nestes casos, somente os sistemas eclípticos (signo casa e casas iguais) podem ser aplicados, porque não sofrem deformações. Também podemos fazer uso aqui da cosmobiologia do alemão Reinhold Ebertin, que não utiliza casas, mas sim “dials” (discos que reduzem os 360º do zodíaco para 90º, 45º e 22º 30′).


Lembramos que, nas latitudes altas, também os planetas podem permanecer circumpolares, deixando de ascender ou culminar, mantendo-se acima ou abaixo do horizonte durante longos períodos do ano. Os dias e as noites polares e o sol da meia-noite são bastante conhecidos.


Uma outra questão em relação aos sistemas de casas deve-se ao fato de que determinadas técnicas foram criadas com um sistema específico e, neste caso, para utilizar a técnica é preciso respeitar o sistema indicado. Esta é a questão dos evolutivos: o Fatum (do francês Dom Néroman) utiliza o Regiomontanus, a Proluna (do uruguaio Boris Cristoff) o Placidus e o Ponto Idade (do casal suiço Huber) o Koch. Para a astrologia médica é quase uma unanimidade a utilização do sistema Koch, indicado para esta área por Robert Jansky.


O grande mestre inglês Charles Carter indica a conveniência da utilização simultânea de dois sistemas: o de Casas Iguais e um dos sistemas de quadrantes. Emma Belle Donath, afirma que um único sistema não responde a todas as necessidades e sugere que cada um deles seja usado para o exame de circunstâncias particulares:


Casas Iguais – herança dos membros da família, traços genéticos e relações próximas.

Campanus – condições mundiais imediatas e como elas afetam a sociedade.

Placidus – objetivos de vida, compreensão psicológica, respostas a questões horárias e eletivas e ainda para marcar o tempo de eventos.

Koch – objetivos passados, presentes e futuros, reações esperadas para eventos e condições.Topocêntrico – eventos mundiais e dispositivos de tempo.


A questão da domificação não tem solução fácil. Normalmente, utilizamos apenas um dos sistemas. “Será que o escolhido é o melhor? Por que este e não outro? Quais as justificativas para esta escolha? Elas são astrológicas ou astronômicas? Teria sido a confiança naqueles que as defendem que influenciou a nossa escolha?” Gustave L. Brahy fez estas perguntas em 1938, mas elas continuam atuais.


Considerando a importância da domificação, é fundamental conhecer e entender as diferenças entre os vários sistemas, observá-los e estudá-los na prática. A movimentação do trânsitos dos luminares e planetas rápidos através das cúspides e a utilização do Mapa Diário são métodos simples para testar os sistemas mais difundidos e também, na progressão secundária a entrada em novas casas dos astros progredidos.


Bibiografia:

The Astrikiger’s Companion – John & Peter Filbey

La Domification et les Transits – Max Duval

Les Problêmes des Maisons Astrologiques – Gustave L. Brahy

Houses: Which and When – Emma Belle Donath


Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2003


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